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Índice


The NA Way Magazine, publicada em inglês, francês, alemão, português e espanhol, pertence aos membros de Narcóticos Anônimos. Sua missão, portanto, é oferecer informações de recuperação e serviço, assim como entretenimento ligado à recuperação, que trate de questões atuais e eventos relevantes para cada um de nossos membros, mundialmente. Em sintonia com esta missão, a equipe editorial está dedicada a proporcionar uma revista aberta a artigos e matérias escritas pelos companheiros do mundo todo, e com informações atualizadas sobre serviço e convenções. Acima de tudo, é uma publicação dedicada à celebração da mensagem de recuperação – “que um adicto, qualquer adicto, pode parar de usar drogas, perder o desejo de usar, e encontrar uma nova maneira de viver.

The NA Way “Manual do Proprietário”

The NA Way Magazine é uma revista de serviço e variedades, dirigida ao membro de NA. Além dos relatórios-padrão dos serviços mundiais, o seu conteúdo editorial abrange desde experiências pessoais de recuperação, passando por humor e nostalgia, até pontos de vista sobre assuntos do interesse de NA como um todo. Buscamos um espírito de unidade e respeito mútuo, sem nos abstermos de controvérsias, quando é oferecida uma solução construtiva. Recebemos artigos nos mesmos idiomas em que publicamos as edições da The NA Way: inglês, francês, alemão, português e espanhol.

Todos os originais estão sujeitos a um processo de revisão e edição, e deverão vir acompanhados do documento de Cessão de Direitos Autorais, assinado.

Estes são os critérios para publicação nas diversas seções da revista:

Artigos
Qualquer matéria, incluindo relatórios sobre assuntos atuais ou eventos de NA, ensaios históricos documentando o surgimento de NA em uma área, região ou país. Favor enviar primeiro um pedido de informações. Máximo: 2500 palavras.

Partilhas
Experiência pessoal de recuperação, de 500 a 2000 palavras.

Parábolas
Textos ficcionais, nos quais o autor ilustra um princípio espiritual ou algum tipo de lição relativa à recuperação. Máximo: 1500 palavras.

Guarde bem
Os grupos de NA estão convidados a enviar fotografias de seus locais de reunião. Agradecemos, especialmente, que nos mandem fotos com o formato das reuniões, literatura de recuperação, posters – e qualquer coisa que faça a sala de reunião parecer “viva”. Infelizmente, não podemos usar retatos que identifiquem companheiros de NA.

Humor
Recortes de boletins de NA (incluindo material da The NA Way Magazine), erros de leitura da literatura de NA em eventos etc. Outros artigos humorísticos podem incluir uma lista dos “dez mais”, paródias sobre a literatura de NA e questionários de múltipla escolha. Máximo: 1000 palavras.


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Simpósio

NA faz aniversário

O dia cinco deste mês (outubro) marca o quadragésimo quinto aniversário da primeira reunião de recuperação documentada de NA, realizada em Sun Valley, Califórnia, EUA. Para uma organização, é bastante tempo. Não podemos chamar de velho mas, certamente, já se pode falar em maturidade.

Em homenagem a esses quarenta e cinco anos, pedimos que alguns companheiros mais antigos falassem de NA, comparando a irmandade na época da sua chegada, e NA nos dias de hoje. Eles ficaram muito felizes em nos contar a respeito dos “velhos tempos” de NA na Califórnia, Austrália e Pensilvania.* Esperávamos ouvir histórias de como essas primeiras comunidades de NA eram desorganizadas, desconhecedoras das Doze Tradições e incapazes de prestar serviços. Ficamos surpresos por descobrir que não era bem assim que as coisas ocorriam, na maior parte dos casos. Além de perguntar aos companheiros suas recordações sobre o início da recuperação, pedimos que nos dissessem qual seria o próximo passo de NA, em que áreas ainda precisaríamos crescer. Como vocês podem ver, eles se dispuseram de bom grado a partilhar suas idéias.

Como a maioria há de concordar, amadurecemos como irmandade. Mantemos, contudo, um espírito jovem. Temos a mente aberta e estamos sempre prontos a dar grandes passos que assegurem nosso crescimento por mais quarenta e cinco anos.

BOB B, CALIFÓRNIA, EUA
37 anos

P. Quando você ficou limpo?

R. Fiquei limpo em 1961; mas, quando cheguei pela primeira vez, em 1959, existia apenas uma reunião.

P. Sua história no Texto Básico tem um nome bastante sugestivo (“Encontrei a Única Reunião de NA do Mundo”); mas afinal, como você encontrou NA? Não existia linha de ajuda na época, certo?

R. Não encontrei NA, foi a minha mulher quem descobriu. Ela estava procurando ajuda e alguém lhe deu o número de telefone do Jimmy, ela me passou. Então eles organizavam aquelas reuniões lá [no Vale de San Fernando]. Para mim, era como se fosse terra estrangeira. Quando eu saía do Centro Sul, estava perdido.

Realmente, não havia nenhum lugar para um adicto se dirigir naquela época. Havia Lexington, Ft. Worth e um par de médicos tentando iniciar programas, mas você precisava de muita grana só para passar pela porta de um lugar daqueles. Eles tinham todo tipo de idéias malucas a respeito do que fosse adicção a drogas e de como consertá-la.
Bem, então eu fui à reunião, e as pessoas liam aquele livro e falavam sobre ficar limpas – na realidade, falavam sobre ficar limpas e sóbrias. Não havia muitas pessoas – normalmente, uma sala cheia costumava ter umas dez pessoas. Muitas vezes, a metade vinha do clubhouse de North Hollywood [AA] e iam só para ver o que os adictos estavam fazendo.

P. Eles partilhavam nas reuniões de vocês?

R. Quanto à partilha deles, de qualquer maneira, os passos não faziam mesmo o menor sentido para mim. Eu os lia. Ouvia falarem a respeito. Não havia muita gente que pudesse falar sobre os passos – além de Jimmy e de alguns daqueles visitantes [de AA]. A maioria era o que eles chamavam de “adictos cruzados”. Eles eram alcoólatras, membros de AA, mas também tinham usado drogas.

Eram pessoas com quem eu podia conversar, perguntar o que tinham usado. Isso era o que me importava na época. Precisávamos descobrir se você era um “drogado barra-pesada” ou um daqueles doidões bobos. Estávamos sempre subestimando a adicção dos outros. Você tinha de se enquadrar.

P. A maioria, na época, era adicta a heroína?

R. Todos eram adictos a heroína. Havia alguns que tomavam bola, mas até isso era junto [com heroína]. Depois de nos ouvir, muitos adictos devem ter ido embora pensando “não, o meu problema não é tão grave assim”; mas grande parte do que dizíamos era puro exagero.

P. As pessoas aceitavam bem que os adictos viessem drogados às reuniões?

R. Sim, apenas pedíamos que não fossem muito óbvios. Muitas vezes, a questão era não termos certeza se devíamos ou não beber. Quer dizer, para nós o álcool não era uma droga.

P. E o Jimmy, não esclarecia a questão?

R. O Jimmy não tentava nos impor nada.

P. Então ele nunca disse que alguém não estava limpo porque estava bebendo?

R. Não, ele nunca disse que alguém não estava limpo.

P. Então, como foi que os membros de NA compreenderam que o álcool era uma droga?

R. Isso aconteceu bem mais tarde, quando chegamos à compreensão do conceito de doença. Também trabalhamos junto com pessoas de fora [não-adictos] – gente como Dorothy Gildersleve [assistente social], Dr. Lewis Quick e o Juiz Emerson. Eles sempre nos mandavam pessoas em busca de ajuda, o que nos mantinha sempre em contato. Conseguiram nos convencer de que quem usava álcool não estava limpo. As pessoas chegavam achando que podiam beber, mas essa idéia tinha vida curta.

Aprendemos pela experiência. Acho que naquele tempo nós violamos toda e qualquer tradição que já tenha sido escrita. Não significavam nada para nós; nós as misturávamos, adaptávamos ou eliminávamos. Foi o que funcionou para nós – até que parou de funcionar.

P. Mas vocês tinham as tradições penduradas na parede... ?

R. É, mas eram as tradições deles.

P. De que maneira vocês violavam as tradições, naquela época?

R. Somente falando em Alcoólicos Anônimos, e fazendo coisas em parceria com eles. Sem a ajuda de AA, muitas coisas nunca teriam acontecido, principalmente as instituições. Eu tenho uma carta de Tehachapi [Instituição Corretiva] ou coisa que o valha falando sobre “inclinação dupla” – reuniões de AA/NA. Às vezes o anonimato corria frouxo.

P. E quanto ao dinheiro? Vocês pegavam dinheiro de fontes externas?

R. Pegávamos dinheiro de qualquer um que tivesse. [Risos] Não, na verdade tivemos de aprender a devolver dinheiro. Alguns lugares nos enviavam dinheiro dizendo: “Vocês estão fazendo um bom trabalho, blá, blá, blá.” Então, mandávamos uma carta e o dinheiro de volta. Éramos auto-sustentados, da melhor maneira possível, mas não havia dinheiro a maior parte do tempo. Imprimíamos a maior parte da literatura, para pagar depois. Quem imprimia era uma pessoa do programa – de AA – mas ele imprimiu para nós por muito tempo, anos, e esperava pelo pagamento. Nós acabávamos não lhe devendo muito; nossas contas não passavam de duzentos ou trezentos dólares por ano.

P. O que vocês publicavam na época?

R. Somente o Livreto Branco.

P. Foi em 1961?

R. Isso, início dos anos sessenta, mais ou menos. Então eu tive de cumprir um tempo, limpar uma barra, e iniciei uma reunião em Tehachapi em 1961. Mas, como eu disse, nós meio que íamos na aba do trabalho institucional de AA.

P. Vocês usavam a literatura de AA na época?

R. Não, o Jimmy me mandou alguns Livretos Brancos, [diretrizes sobre] como conduzir uma reunião, esse tipo de coisa. De qualquer forma, foi a primeira reunião institucional que realizamos lá dentro, e havia gente interessada em recuperação ou, pelo menos, interessada em conseguir o pedaço de papel certo para conseguirem sair dali. [Risos.]

P. Era bem visto pela comissão de condicional?

R. Às vezes. Não era bem visto pela minha comissão de condicional, mas tudo bem. Então pedíamos a AA que levasse alguma literatura, e eles geralmente nos deixavam ficar com a metade da reunião.

P. Então, havia muita indulgência na interpretação das tradições?

R. É como eu disse, nós não entendíamos as tradições naquela época.

P. Parece que os membros de AA também não.

R. Eles deviam saber, só que não ligavam.

P. Havia mais reuniões lá fora quando você foi solto?

R. Sim, havia três.

P. Todas no Vale?

R. Não, uma em Hollywood, o que foi muito importante porque era a única dentro da cidade. As pessoas começaram a aparecer nas reuniões. Tornou-se uma alternativa [à carceragem]. Não que os curadores e departamentos de condicional estivessem do nosso lado, porque não estavam. Eles ainda acreditavam que poderiam resolver o problema dos adictos. Tive muitos problemas com o meu agente de condicional, porque eu queria fazer do meu jeito. Não estava usando, mas falava muita bobagem. Continuava tendo problemas com autoridade. Pensava: “Estou fazendo o que é certo. Trago exames negativos, estou trabalhando, fico em casa e vou às reuniões” – mas ele não queria que eu fosse às reuniões.

P. Pois bem, então a comunidade corretiva estava bem apreensiva com os adictos se reunindo, naqueles tempos?

R. É, NA ainda não havia sido aprovada. Além disso, se você estivesse em condicional, era uma violação [reunir-se com outros adictos ou delinqüentes]. Tive três ou quatro anos de dificuldade com o departamento. Eu tinha uma postura, e o oficial de justiça dizia: “Bem, eu vou trancafiar você para ver se você muda de postura.”

P. E ele fez isso?

R. Fez.

P. Mas isso é terrível. Então você foi preso por freqüentar as reuniões?

R. Fui, mas eu tive um despertar na cadeia, portanto, eles me fizeram um favor.
Nós conduzíamos as coisas [em NA] como devíamos. Não havia um grande sistema de arquivo nem havia escritório. Jimmy tinha provavelmente o telefone mais estável, então as pessoas ligavam para ele.

P. Quanto ao processo decisório de NA, era tomado por quem estivesse presente?

R. Não, nós tínhamos a chamada “organização matriz”. A organização era constituída pelos secretários e tesoureiros das duas ou três reuniões.

P. Um representante de cada reunião?

R. Isso.

P. Era como um mini-CSA?

R. Sim, havia uns dez membros. Para os serviços, procurávamos manter algum tipo de atendimento telefônico. Esse serviço atendia o telefone e ligava para uma lista de companheiros para ver quem morava na região e podia atender a um chamado para o Décimo-Segundo Passo.

P. Vocês atendiam muitos chamados para o Décimo-Segundo Passo?

R. Ah é, o Décimo-Segundo Passo era um grande evento; duas, três e até seis pessoas chegavam a atender um chamado desse tipo. A gente reunia várias pessoas, porque nunca sabia o que iria encontrar. Encontrávamos algumas situações bem estranhas – drogas sobre a mesa, armas, algum paranóico, cuja mãe telefonava ou ele próprio ligava num momento de pânico, e coisas do tipo. Havia muita loucura, mas nós íamos assim mesmo. Saíamos para capturar um, colocá-lo no carro, levá-lo para a casa de alguém e conversávamos com ele a noite toda. Parecia que havia muitos [membros de NA] que não trabalhavam naquela época.

P. Vocês sentavam com eles e levavam a mensagem?

R. É, e não os deixávamos ir embora por um tempo. Não havia muitos lugares para levá-los para uma desintoxicação, por isso, às vezes, tínhamos que sentá-los e ficar com eles. Nós nos revezávamos.

P. Mas eles queriam ficar limpos, não ?

R. Bem, talvez eles não quisessem tanto assim, mas não sabiam mais o que fazer. [Nosso ponto de vista era] não ligue se você não quiser ajuda.

P. Então vocês os deixavam espernear e depois liberavam? Eles ficavam ou não?

R. Certo. Alguns de nós lhes dávamos fósforos e dizíamos: “Agora você pode se detonar. Não volte por aqui se não levar a sério.” Acho que havia muito disso naquela época. Ultrapassamos esse estágio quando aumentou a necessidade de escrevermos a respeito de como conduzir uma reunião, ou sobre as tradições, ou o que esperávamos conseguir: ajudar adictos a ficarem limpos. Precisávamos de algum tipo de comitê para divulgar [NA].

Ainda nos anos sessenta, houve uma grande transformação no pensamento [da sociedade] a respeito de como tratar os adictos. Havia o Centro de Reabilitação da Califórnia, e assim por diante. Também havia várias programações na rádio. Costumavam vir às reuniões e nos entrevistavam no estacionamento. [Foi uma oportunidade para explicarmos] o que era NA e o que não era. Começamos a fazer algumas chamadas, mensalmente, no programa de rádio. Após algumas dessas chamadas, as pessoas começavam a aparecer [nas reuniões] por terem ouvido falar de nós na rádio.

P. Quando vocês começaram a ver outras pessoas nas reuniões, além dos adictos a heroína?

R. Provavelmente entre 63 e 64. Foi na época dos hippies e, você sabe, eles estavam mandando todas, tomando qualquer coisa. Então dissemos: “Vamos ter que tolerar isto; são drogas. Eles estão insanos e loucos.” E estava funcionando. As pessoas começavam a ficar limpas. Dali para a frente houve um grande crescimento. Os oficiais de justiça às vezes nos mandavam gente. E havia alguns agentes comunitários, amigos de NA, por assim dizer.

Foi daí que veio parte dos nossos primeiros custódios. Decidimos que precisávamos de pessoas que não fossem adictas. Poderiam servir como conselheiros. A maioria trabalhava no serviço social. Era um bom intercâmbio. Eles nos diziam uma série de coisas que devíamos fazer ou tentar fazer. Não sabíamos de nada. Éramos uma corja.

P. Como você acha que se deu o amadurecimento de NA como um todo?

R. Aceitamos melhor o fato de que há gente para fazer o trabalho. Somos mais organizados; fazemos parte da sociedade. Não fomos reconhecidos em qualquer sociedade por muitos anos. Não tivemos qualquer reconhecimento até o início da década de setenta.

P. O que aconteceu então?

R. Começamos a crescer – explosão no Norte da Califórnia, então Colorado, Austrália, Inglaterra, Filadélfia... As pessoas começaram a descobrir que havia um lugar onde podiam ficar limpas e se manterem limpas. O escritório tornou-se muito importante. Antes de termos um escritório, tínhamos apenas uma secretária eletrônica e uma caixa postal. A resposta à correspondência dependia de quem ia à caixa postal ou com quem estava a chave.

P. Qual era a coisa mais central e estável que nós tínhamos?

R. Era isso. Nosso Escritório Mundial de Serviço.

P. O mundo em um lugar.

R. Era exatamente isso. Eu só carregaria as coisas na minha maleta até encontrar alguém que respondesse.

P. E o que ainda temos a fazer? Onde precisamos ainda crescer?

R. Precisamos informar a irmandade [sobre os serviços mundiais]. Eles não fazem idéia do que acontece na Conferência Mundial de Serviço. Não fazem idéia sequer da razão da existência da conferência mundial.

DEBI S, CALIFÓRNIA, EUA
25 anos

P. Você ficou limpa em 1973, certo?

R. Certo.

P. Quantas reuniões de NA havia na época?

R. Eu fui parar em um centro de tratamento, então íamos a reuniões de NA. Como não havia muitas, o centro de tratamento tinha duas reuniões de NA por semana.

P. Reuniões internas? Eram abertas a todos os membros de NA?

R. Sim, a comunidade de NA vinha e conduzia as reuniões. Foram essas as pessoas com quem eu fiquei limpa – aquelas que vinham às nossas reuniões. Também havia as que você encontrava em todas as reuniões. Nós íamos a outras reuniões...

P. Não tem problema dizer que você ia a reuniões de AA.

R. Ia dizer isso. Íamos a uma porção de reuniões de AA porque havia reuniões de AA em toda parte, todas as noites, e NA era muito jovem. [O centro de tratamento] ficava na zona leste de Los Angeles, então pegávamos um carro e viajávamos uma hora para uma cidade chamada El Monte, onde eu nunca havia estado, porque era lá que acontecia a outra reunião de NA. Também havia uma reunião na área de Crenshaw e outra em Hermosa Beach.
E era só; esta era a nossa comunidade de NA. Não tínhamos três ou quatro reuniões à noite para escolhermos. Muitas vezes não dispúnhamos de transporte, assim, precisávamos de uma reunião próxima, e acabamos indo a uma porção de reuniões de AA.

P. Lembro-me de uma partilha sua em que você disse que havia passado o início da sua recuperação em AA, e perguntou aos “puristas” incomodados se você deveria sair e começar tudo de novo.

R. Certo. Muitos veteranos tiveram experiências ruins no AA em seus primeiros dias; eu, contudo, faço parte daqueles que viveram uma experiência total e completamente positiva. [O centro de tratamento] mandava-nos em lotadas para os clubhouses, e as pessoas de lá nos adoravam. Chegava aquele carro cheio de recém-chegados jovens e, bem, para nós eles pareciam um pouco velhos, mas provavelmente tinham a mesma idade que eu tenho hoje. Eles nos recebiam; queriam que voltássemos, e não se incomodavam com a linguagem. Lembro-me de levantar a mão e de falar sobre adicção e drogas. Eles simplesmente nos aceitavam, inteiramente, e nos incentivavam. Só tenho boas recordações daquelas reuniões, de receber apoio positivo.

É claro, havia também a questão da literatura de NA – que não existia. Tínhamos o Livreto Branco, e só. Todos nós usávamos o Livro Grande de AA e os Doze e Doze. Sinto que fui agraciada. Tinha uma madrinha que trabalhava os Doze Passos, o Décimo Segundo, indo a hospitais, quer dizer, todo fim-de-semana.

P. Portanto, não havia muita experiência com os Doze Passos na comunidade de NA daquela época.

R. Não havia. Entretanto, quando íamos a reuniões de passos baseadas em AA, elas nos proporcionavam muita informação: informações básicas sobre como fazer, e experiências pessoais sobre o trabalho dos passos.

P. Um recém-chegado a NA, hoje, consegue receber o mesmo nível de informação que você recebeu freqüentando o AA?

R. [Pausa longa.] Às vezes. Falo por mim, mas quando cheguei no programa, não tinha elementos para avaliar aquelas pessoas ou o seu programa, e não tinha vivência para escolher uma madrinha. Não havia folhetos por toda parte sobre a mesa.

Conversei com companheiros que estão limpos e freqüentam NA há bastante tempo, e uma coisa que nós percebemos foi que, quando NA se “separou” formalmente de AA, criando seu próprio livro e linguagem, houve um lado positivo, mas também um aspecto negativo.

O lado positivo foi a unidade, a identificação para o recém-chegado. [Se um recém-chegado] aparece e ouve todas as falas diferentes de todos os programas – é confuso.

P. E qual foi o aspecto negativo?

R. Perdemos muita sabedoria, muita experiência que os membros mais antigos de AA partilhavam com pessoas como eu.

P. Chegamos a perder companheiros de NA, deixando a irmandade para manter sua recuperação inteiramente em AA?

R. Muitos membros de NA se ressentiram [com os outros companheiros de NA] que chegavam dizendo que eles deveriam utilizar aquela nova linguagem. Todas as reuniões eles faziam observações sobre o que [os companheiros] diziam. Assim, eles partiram, levando sua recuperação consigo, e falo de gente que tinha dez ou quinze anos de recuperação na época.

Eu me posicionei contrária a qualquer disputa. Senti que precisava ficar em NA pelas mulheres que viriam depois de mim. Se todos nós debandássemos... não estaria apenas me traindo, mas às novas mulheres que estavam chegando à irmandade.

Em muitos momentos eu não queria estar aqui, nas vezes em que eu era a única na sala que tinha mais de cinco anos limpa, ou era a única mulher da reunião. Foi devido ao êxodo que ocorreu.

Eu nunca nego o local onde estruturei meus alicerces. Às vezes é difícil, quando falo em uma reunião, por exemplo, e um daqueles ditados me vem à cabeça, ou uma referência a algo que já está tão incrustado em mim. Num dado momento, parei de me preocupar com isso. Não posso mudar minha história. Não posso mudar minhas origens. Ainda assim, funcionei com elas.

Por vezes as pessoas iam ter comigo, aborrecidas com o que NA estava tentando forçar, e eu tentava partilhar com elas que NA era uma irmandade nova e em crescimento. Essas pessoas são falíveis, cometerão erros. Se alguém ofender você, deixe para lá, fique aqui [em NA] e seja aquela força positiva para os recém-chegados que atravessam aquela porta.

P. Essa hostilidade não passou – isto é, se uma recém-chegada partilha em uma reunião que está limpa e sóbria, não haverá vaias e gritos?

R. Certo. Saímos de um extremo para o outro, e hoje a coisa está mais equilibrada. Acho que as pessoas são mais razoáveis.

Penso nos recém-chegados dos centros de tratamento, que são levados todas as noites a diferentes reuniões. Não sabem o que está acontecendo. Você não quer que se sintam humilhados e rejeitados, mas era isso que acontecia no início dos anos oitenta. Isso acabou.

P. Então, NA cresceu um pouquinho?

R. Ah sim, com certeza.

MELVIN B, AUSTRÁLIA
23 anos



P. Qual foi seu envolvimento com NA australiano quando ficou limpo?

R. Não existia NA na época.

P. Você vive em Melbourne, certo? Havia alguma coisa acontecendo em Sydney?

R. Sim e não. Existia um sujeito que utilizava o nome de NA em proveito de seu centro de reabilitação, e havia muita controvérsia, começos e paradas.

O principal começo, acho, deu-se em Melbourne. Uma das minhas opiniões a respeito dos “historiadores” é que muitas vezes omitem as coisas de que não gostam. Posso lhes contar como NA surgiu aqui, mas não será uma história de grandes transformações, de adictos maltrapilhos e desesperados. Eram todos membros limpos de AA.
Eu me envolvia quando freqüentava as reuniões de AA e conheci um livro da fundação Hazelden e pensei: “Este é dos bons. Será que eles têm mais algum?” Foi assim que eu escrevi para a Hazelden em 1975. Enviaram-me um catálogo e, dentro dele, algumas coisas [de NA]. Havia um Livreto Branco e um guia para a família do usuário de drogas.

P. Isso era de NA?

R. Não, era dos Familiares Anônimos. Bem, havia uma porção de coisas. Eu mostrei o material, que causou bastante controvérsia – era literatura não aprovada, era isto, era aquilo.

Enfim, naquela mesma época eu fiquei muito doente e fui diagnosticado com tuberculose. Tive de me hospitalizar e, durante a internação, resolvi atuar como conselheiro voluntário em álcool e drogas. Parte do meu treinamento era passar um dia ou meio dia em todos os centros [de tratamento de drogas] de Melbourne. Pois assim eu conheci todos esses lugares e descobri que não havia nada para adictos querendo parar de usar e para os pais que queriam ajuda em sua dor. Com a literatura que recebera de Hazelden, tomei conhecimento de NA e FA, e decidi iniciar ambas as irmandades. Foi quando escrevi para Jimmy K. Recebi uma linda carta de incentivo em resposta e mais a literatura disponível na época – que era muito boa – A Árvore de NA e coisas do gênero.

P. Quanto tempo demorou para vir a resposta?

R. Ah, foi quase que imediatamente.

P. Que ótimo. Sabendo como se respondia a correspondência naquela época, é uma grata surpresa.

R. Enfim, eu freqüentava as reuniões de AA e, no grupo jovem daqui de Melbourne, ouvia falarem de drogas. Conheci [muitas pessoas] e decidimos começar NA. Ouvíramos falar que NA havia começado e parado em Sydney, e fomos falar com um casal de lá que estivera envolvido. Procurei um lugar para realizarmos as reuniões, encontramos o lugar. O que aconteceu foi que Narcóticos Anônimos e Familiares Anônimos começaram com uma semana de intervalo, no mesmo lugar. E, até onde eu sei, esse foi o início da irmandade de NA que se espalhou pela Austrália, guiada pelas tradições.

P. Em que ano foi isso?

R. 1976. O mais interessante, na minha opinião, foi que, se não tivesse ingressado na carreira de conselheiro... Eu falava sobre o meu uso de drogas no AA, e os outros também. Em outras palavras, eu não precisava de NA para ficar limpo e sóbrio, nem eles.

Para mim, sempre houve uma ligação com FA. É claro que isto causou raiva e ressentimento em outras pessoas, que não gostam da idéia dessa ligação histórica.

P. Por que você acha que eles não gostam?

R. Bem, se você quer se neurotizar com as tradições, fale com os membros de NA, porque lá existe uma porção de gente radical. Não sei como nós sobrevivemos, porque há, com certeza, um elemento de auto-destruição em NA. Bem, estou me adiantando...

Foi assim que começou. Éramos em sete, e assim ficamos por um tempo. O primeiro que ficou limpo e sóbrio em NA foi meu padrinho de casamento.

P. Que legal.

R. É. Eu o levei para o AA mas ele não gostou. Depois ele piorou, e eu o levei para NA e, que eu saiba, ele ficou limpo e sóbrio desde então. Ele iniciou NA em Bendigo.

P. O que existia em Sydney na época? Nada?

R. Não. Acho que por volta de 1982 ou 83 começamos a ter grupos em Sydney, seguindo as tradições e se fortalecendo.

P. Tenho certeza de que nossos leitores gostariam de ouvir o quanto NA cresceu. Você me contou o quanto NA era imaturo na época, as tradições de um lado e as pessoas do outro, sem conhecimento das tradições...

R. Agora é que é assim. No início, era muito melhor.

P. Como assim?

R. Era mais solto. Tínhamos as diretrizes básicas do que precisávamos fazer e tentávamos todos trabalhar por uma causa comum mas, à medida que a coisa foi ficando maior, houve mais espaço para as pessoas serem cruéis.

P. Em que aspectos você considera que NA ainda precisa evoluir? Onde ainda apresenta problemas?

R. Mente fechada. Rigidez. Os adictos que chegam não aceitarão autoritarismo, de ter que fazer como o outro fez, tipo ir às reuniões, ler o livro, trabalhar os passos.

P. Você está falando da falta de aceitação de certos companheiros em relação a procurar ajuda extra fora de NA, tal como uma terapia ou religião?

R. Um exemplo perfeito foram os quadrinhos que eu vi na NA Way. A mulher falava em encontrar [algo mais], enquanto que a pessoa do outro lado da linha ficava cada vez mais preocupada.

P. Certo, foi na edição de janeiro de 1998.

R. Eu quase escrevi para vocês a esse respeito.

P. Bem, agora você não precisa mais, porque está sendo entrevistado pela revista.

R. Achei que o desenho estava ridicularizando as pessoas que querem fazer outras coisas fora de NA. [Esta atitude] causa divisão, porque demonstra intolerância. Temos de respeitar as pessoas. Quando as diminuímos por fazerem algo para além de um ponto de vista estreito, não as estamos respeitando. Ou seja, o que vocês publicaram foi a norma [em NA]. Houve muito preconceito quando me tornei conselheiro em tempo integral. Além do mais, sou ateu. Isto tem causado enormes problemas para as pessoas – não para mim, enquanto pessoa em recuperação, mas para os outros. Então eu parei de ir às reuniões. Foi outro problema, porque eu escutava tanta porcaria nas reuniões e mandava meus clientes para as reuniões. Diziam que você não podia ficar limpo sem freqüentar reuniões. Absurdo!

Eu acreditei nisso tudo quando era novo. Se havia alguém ligado nas reuniões, nos passos, no Décimo-Segundo Passo, essa pessoa era eu. Fui mudando com o tempo. Agora [eu pergunto]: Como é a recuperação? O que é a doença? O que, dentro de nós, está se recuperando? Existe mais de uma maneira de fazê-lo.

NA sempre renascerá, com o amadurecimento de novas pessoas na irmandade, dando o seu toque pessoal. Mas o que me assusta é a delimitação de fronteiras – fora é ruim, dentro é bom.

Não acredito que a adicção seja uma doença. Essa idéia é absurda para mim. Chamar a adicção de doença foi útil em 1935 e 1953. Também serve hoje em dia, se você apenas quiser ficar limpo e não evoluir mais nada além disso. Você mesmo sabe quantos adictos ficam limpos, mas continuam em outras adicções.

P. Ou deixam de fazer mudanças essenciais...

R. Exato. Outro [conflito que tenho com a filosofia de NA] é o fato de não ter um Deus. Se você olhar para os passos, eles são verdadeiramente voltados para a noção de Deus. Passo um tempo considerável do aconselhamento orientando as pessoas a passarem pelos primeiros três passos, utilizando seu próprio eu superior ou qualquer outra coisa, para podermos trabalhar os passos importantes: o quarto e o quinto.

Mas continuamos tratando essa coisa como se fosse sagrada. Está no livro, então tem de ser verdade. Ajudei a escrever o Texto Básico, não apenas a minha história pessoal, mas o conteúdo mesmo do texto. Foi escrito por seres humanos falíveis, que fizeram o melhor que podiam naquela época.

P. Eu ia justamente dizer que algumas das novas literaturas, em especial, os novos Guias para o Trabalho dos Passos, mencionam que os membros utilizam o conceito de Poder Superior ou seu próprio eu superior.

R. É um bom caminho; porém, quando você entra nos grupos, onde as pessoas chegam desesperadas, e lhes dizem: “Você tem que acreditar nisto” – é muito fácil propagar as velhas idéias. Os companheiros mais antigos ficaram limpos porque tiveram apoio da irmandade, mas é o seguinte: você só recebe apoio se seguir as diretrizes. Caso contrário, será condenado, relegado ao ostracismo. Acontece com gente nova. Acontece com pessoas como eu. O amor não é incondicional.

P. Então, você acha que NA precisa realmente de amor incondicional?

R. Sim, porque esse é o elemento que realmente recupera.

DAVE F, PENNSYLVANIA, EUA
24 anos



P. Como era a irmandade de NA, quando você a encontrou em 1974?

R. Havia um centro de reabilitação aqui, que foi muito iluminado quando abriu suas portas para os adictos. Tratou de alcoólatras por uns cinco ou seis anos e, no final dos anos sessenta, começou a tratar de adictos. O diretor acreditava que os mesmos princípios que funcionavam para o alcoolismo também funcionariam para a adicção.
Então, naquela época NA já estava na parada. Havia duas reuniões de NA por semana, e havia NA na Filadélfia de quando em quando, mais presente a partir de 1969. Tem uma historinha bem interessante.

P. Conte.

R. Tem a ver com a importância da literatura. Um adicto desta área foi a uma convenção de AA na Califórnia, em 1969, e encontrou com umas pessoas que disseram: “Olha, existe NA aqui.” Deram-lhe então uma – uma! – cópia do Livreto Branco. Trouxe-a consigo e mostrou-a a um amigo que era terapeuta do centro de reabilitação e, juntos, começaram uma reunião de NA. Tudo o que sabiam de NA era o que continha o Livreto Branco.

P. Parece que foi o suficiente.

R. Foi sim. A partir de então, as pessoas que passavam pelo centro de reabilitação começavam as reuniões em suas próprias comunidades; assim, quando eu cheguei, em janeiro de 1974, havia uma meia dúzia de reuniões no Vale Delaware, que abrange a Filadélfia e comunidades suburbanas adjacentes.

Além disso, foi naquele período – final dos anos sessenta e início dos setenta – que o problema das drogas estava crescendo. Surgiram muitos centros de recuperação, mais baseados no método Synanon, que eram as comunidades terapêuticas [defendendo um longo afastamento da sociedade]. Muitos deles nem tratavam da questão do álcool na vida de um adicto.

E ali estava aquele Livreto Branco e as reuniões, deixando bem claro que o álcool era uma droga. Era a visão de uma minoria naquela época. Havia centros de recuperação que, após uma estada de um ano, tentava ensinar você a beber socialmente. Levavam você para sair e tentavam mostrar como se bebe uma ou duas cervejas.

P. Caminhamos bastante desde então. E quanto às Doze Tradições? A comunidade de NA na Filadélfia as seguia? Vocês falavam a respeito?

R. Esta é uma questão bastante interessante, porque todos freqüentavam o AA. Ninguém sequer havia tentado – seria considerado imprudente e incompleto – ficar limpo apenas nas reuniões de NA. [Os membros de NA] simplesmente não tinham muito tempo limpo. Lembro-me do meu primeiro grupo de escolha. Era uma reunião grande, porque tinha umas doze a quinze pessoas, e aqueles eram basicamente todos os adictos que freqüentavam NA.

P. Então, aquela era considerada uma reunião enorme, na Filadélfia de 1974?

R. Enorme. E dizia-se que havia alguém por ali que tinha três anos. Era uma quantidade extraordinária de tempo limpo. Portanto, íamos todos ao AA, coisa que as pessoas hoje na irmandade têm dificuldade de entender. Líamos a literatura de AA nas reuniões.

Bem, com exceção do relacionamento com AA, poderia dizer que seguíamos as tradições. Havia uma reunião em um centro de tratamento e [o pessoal do centro] insistia que os adictos [de fora] fizessem exame de urina antes de entrarem na reunião. Assim, o que nós chamávamos de “intergrupal” votou não apoiar a reunião, porque era uma violação das tradições.

P. Até hoje essa questão é controversa.

R. Mas nós nunca nos vimos como um “pequeno AA”. Tivemos nossa própria personalidade desde o início. Íamos ao AA para aprender sobre espiritualidade e sobre os passos, com alcoólatras que tinham mais experiência.

P. Você diria que a linguagem de NA foi importante no desenvolvimento da identidade de NA?

R. Não penso assim. Tínhamos uma identidade bem definida. Promovíamos nossas próprias atividades. Realizávamos nossos próprio intergrupal. Organizamos nosso próprio comitê de relações públicas, tentando divulgar nossa mensagem, eu diria até que de maneira mais agressiva do que hoje em dia. Tínhamos uma linha de ajuda na Filadélfia, tocando na casa de um adicto. Portanto, eu diria que a irmandade, enquanto identidade separada de AA, foi anterior à questão da linguagem de NA. Esta só chegou aqui no início ou meados dos anos oitenta.

P. E como afetou a irmandade da Pensilvania?

R. Causou vários de problemas. Muitas pessoas que estavam bastante envolvidas com NA pararam de freqüentar as salas por causa disso. A onda de “falar corretamente” fez com que as pessoas fossem embora. Mas essa não foi a primeira razão. Nosso maior êxodo ocorrera quando da publicação da Árvore de NA.

P. É mesmo?

R. É, ela foi disseminada em 1977, após ter sido distribuída lá na Califórnia. Muita gente resistiu bastante. Acabou se revelando uma minoria, mas uma minoria forte e ativa, que resistia a adotar a estrutura de serviço que – achávamos – nos estava sendo empurrada.

P. Como era a sua estrutura de serviço antes disso?

R. Bastante semelhante à de AA. Tínhamos um Intergrupal.

P. Acho que nem todos os nossos leitores estão familiarizados com a estrutura de AA; você poderia explicar um pouco melhor? O que fazia um Intergrupal? Um representante de cada grupo de NA ia à reunião Intergrupal?

R. Sim, e era muito bem feito. A reunião era itinerante, para despertar o interesse de outras áreas.

P. Que ótimo. Prestava algum serviço?

R. Sim, tínhamos relações públicas. Existia o comitê de literatura. Redigíamos a nossa própria literatura aqui. Pelo que me lembro, no início dos anos sessenta, o Primeiro Passo, na Califórnia, dizia: “... impotente perante a nossa adicção”, e provavelmente era assim que constava no Livreto Branco que apareceu por aqui em 1969. Mas alguém daqui decidiu que deveria ser “... impotente perante as drogas.” Foi assim durante um certo tempo, suscitando uma verdadeira controvérsia por aqui. Nas reuniões lia-se “impotentes perante as drogas” e então, quando a Árvore de NA chegou, as pessoas iam àquelas reuniões para lhes dizerem que não pertenciam a NA. Também estávamos sempre tentando nos comunicar com a Califórnia e não obtínhamos resposta. Não existia uma irmandade viável em Nova York na época. Não sabíamos da existência da irmandade em qualquer outro lugar. Foi quando muitos colaboradores dos primórdios de NA foram embora, simplesmente.

Porém, os que ficaram foram tantos quanto os que partiram, e acabaram recompensados. Foi o máximo assistir ao crescimento da irmandade. Demandou um espírito conciliador. Eu diria que [a controvérsia sobre a linguagem de NA] foi se amenizando ao longo dos anos. As pessoas podem vir às reuniões e falar da maneira como quiserem, sem serem repreendidas.

P. O que mais mudou?

R. Bem, vou lhe contar uma coisa que você nunca verá em uma reunião hoje em dia. Fazíamos rifas meio-a-meio. [Nota do editor: Em uma rifa meio-a-meio, os bilhetes são vendidos por um determinado valor, e o dinheiro arrecadado é dividido entre a organização que promove a rifa e a pessoa cujo bilhete é sorteado.]

P. Nas reuniões!?!

R. Imagine só tentar fazer uma coisa dessas hoje? Sairia tiro.

P. Que outras coisas loucas e insanas vocês faziam naquele tempo, que não existem mais em NA?

R. Fumar nas reuniões. Era café, biscoitos e cigarros, todas as reuniões. Ninguém pensava em reuniões de não-fumantes.

P. Que mais?

R. As pessoas sabiam que, se quiséssemos que a coisa fosse em frente, precisávamos de recém-chegados. Alguém doente com os ouvidos abertos era um bem precioso. Também a recaída era vista de forma um pouco diferente. Pode-se até pensar que a recaída hoje é apenas mais um dia em recuperação. Já ouvi as pessoas nas reuniões dizerem que recaída é bom e outros tantos absurdos. A recaída era levada muito a sério, e era algo a ser evitado.

P. Você acha que era porque as pessoas chegavam “mais no fundo”, naquele tempo?

R. Não sei. Acho que as pessoas agora têm medo de dar orientação. Não pega bem dizer a alguém: “escuta, você está errado”. Precisamos ser essa coisa do tipo “aceitamos tudo o que você fizer”, o que é uma tremenda besteira. As pessoas precisam de orientação de vez em quando. Quando eu cheguei, os veteranos diziam na sua cara que você estava fazendo uma coisa errada. Há umas duas semanas atrás eu estava em uma reunião, e o cara estava partilhando que o álcool não era problema para ele e que poderia beber. Eu o interrompi e disse que o programa de NA é de total abstinência e que ele não deveria estar partilhando aquilo ali. As pessoas ficaram revoltadas comigo por ter dito aquilo.

P. Na sua opinião, em que áreas NA ainda precisa crescer? Qual o próximo passo de NA?

R. Acho que precisamos levar a mensagem de NA ao público, novamente, divulgando o nosso número de telefone e listas de reuniões. Basicamente, estou bastante satisfeito com o rumo das coisas. Adoro esse interesse pela nossa história, que está ocorrendo agora. Penso que as convenções são ótimas e muito bem organizadas. Graças a Deus tantos adictos têm talento para organizar coisas assim.

Gostaria que reconhecêssemos a Irmandade de NA em Nova York que existiu em 1949, 1950 etc. Eu tenho cópia do estatuto de Narcóticos Anônimos registrado em 1951. Também possuo cópia original de “Nossa Maneira de Viver – Uma Introdução a Narcóticos Anônimos”, publicado em 1951 em Nova York. Penso que devemos ser mais objetivos quanto à nossa história. Não significa diminuir em nada a contribuição das pessoas da Califórnia. Devo minha vida ao fato de o Livreto Branco ter vindo parar aqui na Costa Leste. Não creio que signifique diminuir nem um pouco a contribuição de Jimmy K o fato de falarmos das contribuições de Danny C e Houston S. Deveríamos investigar as conexões entre as irmandades da Califórnia e de Nova York. Pode ter havido contato entre elas.
Também gostaria que tentássemos atrair de volta as pessoas excluídas pela intransigência de meados e final dos anos oitenta. Elas têm muito a dar – e também têm muito a aprender aqui.

Hoje, você pode ficar limpo aqui e jamais entrar em uma reunião de outra irmandade. Já vi isso acontecer. Estamos fortes. Somos grandes. Não precisamos mais temer nossa dissolução em qualquer outra irmandade. Não vamos sair daqui.


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Editorial

Neste artigo, Jeff G da Califórnia expressa algo em que muitos membros de NA acreditaram durante a adicção ativa: “Eu não passaria dos trinta anos”. Infelizmente, essa era exatamente a experiência da maioria dos adictos. A morte era prematura e, conseqüentemente, as reuniões de NA eram compostas, na sua maioria, por companheiros na faixa de vinte e trinta anos.

Felizmente, não é mais assim. Existem membros de NA adolescentes, e aqueles companheiros idosos que já passaram da idade de se aposentar. Nosso sonho, que “nenhum adicto em busca de recuperação precise morrer sem ter a chance de encontrar uma melhor maneira de viver”, tornou-se realidade. Os adictos de hoje têm a chance de viver e envelhecer.

E, à medida que isso acontece, a composição de NA vai sendo alterada. Os companheiros mais antigos podem oferecer sua maturidade, tanto em matéria de tempo limpo como biológico, aos companheiros mais novos ou mais jovens. Além disso, NA enquanto organização torna-se mais madura, refletindo a recuperação de seus membros.
Queríamos descobrir o que pensavam alguns dos nossos companheiros mais antigos a respeito do crescimento de NA ao longo dos anos, então nós os entrevistamos. Apesar dos sentimentos expressados terem variado, desde o orgulho até o desgosto, todos tiveram idéias a respeito de como NA deverá se desenvolver daqui para a frente. Sua visão do passado de NA proporciona a luz para enxergarem o presente.

O que você pensa?
Apesar de uma parte da NA Way conter artigos especificamente encomendados por nós, de acordo com os temas de cada edição, existe muito espaço para a contribuição de vocês – sua experiência pessoal nas seções de “Partilhas” ou de “Serviço”, artigos humorísticos, pontos de vista ou opiniões sobre a própria revista. Temos, ainda, interesse em saber suas sugestões de temas para os próximos números da revista. Você poderá ter mesmo uma idéia que deseje desenvolver como matéria de capa. Os artigos estão chegando mas, quanto maior nossa possibilidade de escolha, tanto melhor ficará refletida na revista da irmandade a totalidade de NA. Estaremos de olho na nossa caixa postal.

Cindy T, Editora
Correção: Na edição de julho de 1998, atribuímos, por engano, o artigo “Dicas de Procedimentos” a David R, quando deveria ter sido Steven R, Vice-Coordenador do Comitê de Procedimentos da WSC. Nossas desculpas.

A revista The NA Way Magazine agradece o envio de cartas dos seus leitores. As cartas dirigidas ao editor podem ser em resposta a qualquer artigo publicado ou, simplesmente, algum ponto de vista sobre assunto em destaque na Irmandade de NA. As cartas deverão conter, no máximo, 250 palavras, sendo que nós nos reservamos o direito de editá-las. Todas as cartas têm de conter assinatura, endereço correto e número de telefone. Serão utilizados, como subscrição, o primeiro nome e última inicial, a menos que o autor da carta solicite anonimato.

The NA Way Magazine, publicada em inglês, francês, alemão, português e espanhol, pertence aos membros de Narcóticos Anônimos. Sua missão, portanto, é oferecer informações de recuperação e serviço, assim como entretenimento ligado à recuperação, que trate de questões atuais e eventos relevantes para cada um de nossos membros, mundialmente. Em sintonia com esta missão, a equipe editorial está dedicada a proporcionar uma revista aberta a artigos e matérias escritas pelos companheiros do mundo todo, e com informações atualizadas sobre serviço e convenções. Acima de tudo, é uma publicação dedicada à celebração da mensagem de recuperação – “que um adicto, qualquer adicto, pode parar de usar drogas, perder o desejo de usar, e encontrar uma nova maneira de viver.”

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Partilhas

Além da
imaginação

Eu sempre acreditara em Deus, não foi esse o problema. O problema é que acreditava em Deus tanto quanto acreditava no Polo Norte.

O Polo Norte está lá, no alto do planeta (ou ao lado ou embaixo, se você estiver no espaço). Nunca o vi, mas sei que está ali. Qual a importância do Polo Norte na minha vida?

Nenhuma, absolutamente. Assim como a minha crença em Deus. Parece-me interessante a transferência que os adictos fazem, em relação a Deus, do seu desagrado por alguém que lhes diga o que fazer. Pelo menos, era esse o meu caso.

Revoltava-me a simples idéia de ter um Poder Superior que esperasse algo de mim. Tratava de forma egoísta aquele Deus da minha compreensão. Pedia-lhe ajuda quando estava para ser preso. Suplicava-lhe, apavorado, quando achava que estava prestes a morrer de tanto usar drogas. As únicas vezes em que pensava na possibilidade de Deus querer algo de mim, era quando tentava travar algum acordo cósmico, do tipo “Está bem, Deus, devolva minha namorada que eu paro de usar drogas. Ligarei para a minha mãe – todos os dias”.

Pois bem. Creio que tivesse alguma noção do que Deus esperava de mim: nada de drogas, ligar para a mamãe. Ou, numa perspectiva mais ampla que posso perceber hoje, parar de desrespeitar o meu corpo e espírito; ser menos egoísta; pensar na pessoa que me deu à luz. A questão era: não me importava com o que Deus queria. Não tinha qualquer relacionamento com Ele.

Tive muita sorte quando cheguei ao programa, pois ouvi alguém ressaltar o significado do Segundo Passo: Viemos a acreditar que Deus pudesse devolver-nos à sanidade, e não apenas que viemos a acreditar em Deus.
Só precisaria acreditar, em relação a Deus, que Ele pudesse devolver-me à sanidade. O que eu deveria fazer, de fato, era construir um relacionamento com Deus.

Assim, comecei. Uma das minhas primeiras providências foi sentar-me em lugar calmo e reservado, para conversar com Deus. Às vezes me sentia ridículo, mas continuei assim mesmo. O que funcionou para mim foi conversar com Deus, como falaria a um amigo, um amigo à prova de tédio, diga-se. Falava com Deus sobre as minhas opiniões, o que havia dito naquele dia, para quem, o que meus amigos e minha família faziam e o que eu pensava a respeito, como estava me sentindo, o quanto gostava da minha casa, e assim por diante.

Descobri algumas coisas que qualquer pessoa que tente estabelecer uma relação com Deus desta maneira também experimentará da mesma forma. Primeiro, que eu não poderia mentir para Deus. Seria absurdo até mesmo tentar. Pense nisso.

Em segundo lugar, descobri que me sentia menos ridículo quanto mais praticava, e que meus lábios começavam a pronunciar as verdades que meu coração já conhecia.

Terceiro, eu podia me aborrecer com Deus, que Ele não me deixaria.

Minhas conversas com Deus começaram a se tornar bem introspectivas. Nunca houve muita separação entre prece e meditação, para mim. Ouço, faço meu inventário, peço coisas, principalmente o conhecimento da vontade de Deus para mim, ultimamente.

O que descobri sobre a vontade de Deus para mim?

Não obstante ligar para minha mãe todos os dias, acredito que Ele queira que eu viva segundo os princípios dos Doze Passos de NA. Parecem conter quase tudo o que compõe uma pessoa legal: honestidade, humildade, generosidade, sensibilidade, consciência. Os passos nos ensinam a viver.

Continuarei aprendendo.

Sam B, Illinois, EUA
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Vocês ainda precisarão
de mim?

Quando eu era jovem, sabia apenas de duas coisas: morreria drogado, e não passaria dos trinta. Agora, veja só, nenhuma dessas certezas se concretizou. Acredite, fiquei mais surpreso do que todo mundo. Apostaria qualquer coisa (na realidade, foi o que fiz; eu apostei tudo) como estaria morto e enterrado, completamente drogado, antes de 1976.

Qual não foi a surpresa! Raiou o ano de 1977, depois 78, e assim por diante. E agora estou aqui. Já estamos em 1998, dirigindo-nos rapidamente para a virada do século, do milênio, o dia em que todos os computadores pararão! O que pode fazer um pobre adicto em recuperação? Tenho cinqüenta e um anos, inclinação atlética em corpo que falha, calejado de perspectivas que variam de esbelto a nada, pagando as minhas contas mas dirigindo um Lexus – não!

Como e, principalmente, onde eu posso me inserir? Existe lugar para mim, para eu envelhecer em NA? Ou, como dizia John Lennon, “Vocês ainda precisarão de mim, me alimentarão, quando eu estiver com sessenta e quatro?”
O mundo é dirigido pelos jovens. O mesmo acontece em NA. A pessoa mais importante em qualquer reunião é o recém-chegado [apesar de “recém-chegado” já ser uma metáfora para novo, parece ser mesmo verdade que a maioria dos recém-chegados são novos em idade]. Os serviços de NA, freqüentemente, recebem solicitações de reuniões para novos, atividades para jovens etc. Isso é legal; é bom; é a lei natural das coisas – mas, e os dinossauros? (Também emprego “dinossauros” como metáfora – não apenas com mais de quarenta anos de idade, mas também com mais de dez anos limpos.) Gostaria de discorrer sobre algumas de nossas necessidades, desejos e limitações.

Queria ir a uma reunião por semana, onde alguém partilhasse que seu filho quer um carro novo, quando sequer sabe trocar o óleo do velho. Gostaria de ver uma mulher partilhar sua insegurança porque tem um encontro, aos quarenta e tantos anos, e nunca antes se encontrara com alguém sem usar drogas primeiro. Tenho interesse em saber como um adicto com hepatite do tipo C aciona sua seguradora, para receber tratamento apropriado. Quero ouvir falar do orgulho de um pai ou mãe, vendo seus filhos se formarem no colégio. Preciso me sentir à vontade para falar de situações íntimas que acontecem na meia-idade e que, apesar de serem novidade para mim, estão se tornando muito presentes na minha vida. Infelizmente, agora não me sinto confortável na maioria das reuniões.

Existe um outro lado, bastante positivo, desta questão. Gostaria de freqüentar uma reunião, uma vez por semana, onde se partilhassem os diversos tipos de meditação praticados pelos membros de NA, e seu sucesso e fracasso com essas práticas. Queria ouvir falar mais sobre os serviços bem-sucedidos, partilhando segredos e técnicas que aprenderam ao longo dos anos, para prestarem o melhor serviço possível. Por mim, ouviria uma dose saudável de partilhas de companheiros, para quem a obsessão de usar drogas já tenha passado há muito tempo, e que agora descobriram que outros problemas na vida tomaram uma proporção central, necessitando de rendição, aceitação e oração.

Não me interpretem mal. Não há nada, repito, nada mais comovente ou mais importante na minha recuperação do que ouvir um recém-chegado partilhar que “captou” – a mensagem de que você nunca mais terá de usar novamente. A alegria dessa revelação é o que injeta novo sangue na irmandade. Simplesmente, o fato é que minhas necessidades estão crescendo, com a recuperação e com a idade.

Busco ajuda e orientação nestas outras áreas da minha vida também. Sei de alguns grupos que adaptaram seu formato, para atender mais ou menos o que eu partilhei através deste artigo. Conheço um grupo que pede que apenas os companheiros com mais de cinco anos partilhem; além disso, apenas convidam partilhadores com mais de dez anos limpos. É desnecessário dizer que todos os adictos são bem-vindos. Outro grupo dedica uma reunião por mês à partilha de membros com mais de cinco anos. Nas outras semanas, o grupo é aberto à participação geral. Estes são alguns procedimentos que visam tornar as reuniões mais proveitosas para os companheiros com bastante tempo limpo. Gostaria de saber de outros.

Agora quanto à questão da idade. Como se sentem os companheiros mais jovens quando alguém como eu fala sobre problemas da coluna lombar ou como aplicar os três primeiros passos aos problemas decorrentes da idade? Será necessário, ou oportuno, iniciar um formato de reunião dirigido a “Membros de NA seniores (acima de 40 anos)”? Como seria visto pelos outros companheiros, ou pela irmandade como um todo?

Parece-me que a NA Way é o melhor fórum para iniciarmos debates deste gênero na nossa irmandade mundial. Por favor, enviem cartas à redação da revista, opinando sobre estes assuntos, para que possamos ter uma idéia do que pensamos a respeito.

Ei, você acha que eu poderia ter direito, como idoso, a um desconto na literatura de NA?

Jeff G, Califórnia, EUA
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Operação tranqüila

Comecei esta manhã como qualquer outra segunda-feira – levantei-me às 4:00h, peguei meu cigarro e dirigi-me à sala de estar. Liguei a televisão no canal ESPN, fiz uma xícara de chá quente, tentando desanuviar a manhã na minha cabeça. Esperei até o último momento possível para me vestir correndo e calçar as botas. Enquanto me agachava sobre as botas, senti uma dor aguda no meu peito. “Ai, isto não é normal”, pensei comigo mesmo. Porém, quando me endireitei, a dor se foi da mesma forma repentina como havia chegado.

Então fui trabalhar. A viagem até Modesto correu sem novidades. Pulei no vagão que partia para Sacramento. Lá chegando, salto na estação e bang – aquela dor novamente. Falo com meu companheiro de viagem, que me sugere um comprimido. Não achei que fosse melhorar, mas tomei assim mesmo.

Nada. Ainda sentia dor, apesar de não ser tão forte como no primeiro ataque. Liguei para o escritório para avisar o que estava acontecendo, e começaram todos a enlouquecer. Disse-lhes que não era um ataque cardíaco (outro local), mas não fez diferença. Mandaram um taxi para me apanhar e levar ao hospital. A primeira coisa que avisei ao pessoal do hospital é que eu era um adicto em recuperação, e que eles teriam que informar isso com absoluta certeza a todos que viessem a me tratar.

Depois de nove horas e incontáveis testes, exames de sangue e raios-x, liberaram-me sob a responsabilidade da minha esposa, que tinha vindo de Stockton para ver como eu estava. O médico me disse que eu sofrera um ataque leve de vesícula, devido a areia e algumas pedras.

Essa foi a boa notícia; parecia que a única forma de corrigir o problema era uma intervenção cirúrgica para remover as pedras. Já havia sido operado antes, mas tinha apenas sete anos na época. Retirar as amígdalas não foi complicado, mas desta vez era diferente! Eu era um adulto e compreendia o que significava uma cirurgia.
Indicaram que procurasse um cirurgião e combinasse tudo. Enumeraram todas as coisas boas (comida) de que precisaria abrir mão até depois da cirurgia. De alguma forma, não conseguia me ver fazendo uma dieta livre de gordura. Uma das minhas muitas adicções é por comida que não me faz bem. (Salsicha polonesa te diz alguma coisa?)

Uma das primeiras providências que tomei ao chegar em casa foi ligar para o meu padrinho. Sua confiança, juntamente com a entrega ao meu Poder Superior, aliviaram um pouco o medo que tentava, lentamente, dominar minhas emoções.

No dia seguinte fui ver o cirurgião. Confirmou que a única maneira de corrigir o problema era realizando uma cirurgia para retirar a minha vesícula. A cirurgia foi marcada, e eu entrei em contato com o meu trabalho para avisar que faltaria algumas semanas. Ofereceram seu apoio e me desejaram tudo de bom.

Nesse intervalo, entre a ida ao médico e a realização da cirurgia, fui a muitas reuniões e partilhei abertamente o meu medo do que iria acontecer. Outros companheiros partilharam sua experiência, força e esperança – e suas orações. Uma das muitas coisas que aprendi em recuperação é que o medo pode ser derrotado, quando tomo consciência da razão do meu medo. Meu padrinho sempre me lembrava que eu não estaria sozinho: Deus estaria ali, segurando a minha mão. Buscando forças em meu Poder Superior consegui encarar meus temores. Somente preciso acreditar no Seu amor por mim, e confiar neste processo que nós chamamos de recuperação através de NA.

A operação transcorreu conforme o previsto, exceto por um atraso de três horas em seu início. (Meu médico ficou retido com outro paciente.) Enquanto esperava, brinquei com a equipe médica. Eles foram gentis e me explicaram todo o procedimento, mostrando-me todos os instrumentos que seriam utilizados na remoção da minha vesícula.
Quando recuperei meus sentidos, já estava de volta ao meu quarto. Minha esposa e meu padrinho estavam lá. Claro, Deus também estava comigo, e eu sei o quanto sou agraciado por ter essas pessoas e a vocês, minha família de NA, na minha vida.

No domingo pela manhã, diversos adictos em recuperação passaram lá após a reunião masculina, para ver como eu estava passando. Um deles me entregou um cartão, que havia sido assinado por todos os meus irmãos em recuperação que haviam ido à reunião. Com muito esforço, consegui conter as lágrimas que brotaram ao ler os recados que cada companheiro escrevera. No centro do cartão, estava impressa a seguinte inscrição: Você é amado. Até hoje não consigo explicar o quanto aquele cartão me comoveu, mas posso dizer que sou amado e abençoado.

Naquele domingo, mais tarde, tive alta do hospital. Liguei para o meu padrinho, para lhe dizer que havia chegado bem em casa. Perguntou-me se me sentia em condições de ir a uma reunião naquela noite. Você pode imaginar qual foi a minha resposta: Sim! As pessoas ficaram chocadas por me ver ali, mas aquele era exatamente o lugar aonde eu precisava ir. Entreguei a Deus toda a dor que sentia. Realmente Ele a levou, deixando-me apenas com um pouco, que eu podia agüentar com um comprimido de Tylenol. Mais uma vez o programa estava me mostrando que, entregando a Deus, Ele pode nos ajudar a superar qualquer obstáculo na vida.

Na terça-feira à tarde, já não estava tomando nada para a dor. Não estou dizendo, com isso, que ninguém deva sofrer. Se a dor aumentasse, eu não hesitaria em tomar alguma coisa prescrita para combatê-la. Não preciso ser um mártir, mas o poder da oração foi tudo o que o médico prescreveu.

Neste momento, estou me recuperando de outra cirurgia (que sorte). Todos aqueles anos bebendo, fumando e ingerindo todo tipo de porcaria custaram-me os dentes. Lembrando que ser responsável inclui cuidar de mim mesmo, tomei todas as medidas necessárias para tratar dos meus dentes. Nenhum dos dentes de cima pode ser salvo, então, a única solução foi arrancá-los e implantar um novo conjunto de dentes artificiais.

Nunca, em todos os meus anos de recuperação, pensei que pudesse fazer algo tão drástico quanto uma cirurgia bucal (será que alguém gosta mesmo de ir ao dentista?). Novamente, entreguei o meu medo a Deus e partilhei nas reuniões. Não sabia que tantos companheiros (desculpem, omitirei os nomes) haviam sofrido o mesmo destino dental. A ajuda de um adicto a outro não tem mesmo paralelo.

Passaram-se apenas quarenta e oito horas desde a minha cirurgia, e a maior parte da dor já se foi. Mais uma vez, nas bênçãos que advêm do trabalho dos Doze Passos, de me manter disposto a aprender e com a mente aberta, e partilhando minhas esperanças e medos com outros companheiros de programa, encontrei ajuda para atravessar outro grande acontecimento da minha vida. Sei que nunca precisarei enfrentar sozinho qualquer dos desafios da vida – a menos que eu assim prefira e, só por hoje, essa escolha não é a minha opção. Espero que a minha história possa ajudar alguém que esteja passando por situações parecidas a buscar coragem nas reuniões e na irmandade. Se podem funcionar com este velho ranzinza em recuperação, tenho certeza de que poderão funcionar para você.

Jeff B, Califórnia, EUA
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Vai melhorando

Cheguei a NA com quarenta anos de idade (a vida começa aos quarenta, certo?). Sabia que não poderia continuar vivendo daquela maneira, mas tinha medo do que poderia ser a vida sem drogas naquela idade.

Durante uns sessenta dias, tudo o que eu fiz foi ir a reuniões e ler o Texto Básico – depois que adquiri um exemplar, com vinte dias limpo. Estava lutando para ficar limpo e percebi que, se quisesse ir mais adiante, precisaria fazer mais do que andava fazendo.

Pedi a alguém que me apadrinhasse (graças a Deus, quatorze anos depois ainda tenho o mesmo padrinho), e me envolvi no serviço. Foi aí que comecei, de verdade, o meu processo de recuperação. Minha vida foi melhorando progressivamente, às vezes mais lentamente, mas firme. Havia esquecido de todas aquelas coisas que a doença me dissera a respeito da minha idade, que eu estava velho demais para ficar limpo etc.

Um dia, quando tinha cerca de dois anos limpo, olhei para o espelho. Fiquei perturbado com o que vi. Aquele homem jovem, atrevido, arrogante, de vinte e cinco anos não estava mais ali, olhando para mim. Perguntei para mim mesmo: “Aonde foram todos esses anos? Desperdicei a maior parte da minha vida.” Seguiu-se a esse outro pensamento: “Caramba, é melhor ficar limpo e aproveitar para viver a vida da melhor maneira possível dentro das atuais circunstâncias.”

À medida que o tempo foi passando, fui experimentando todos os sinais físicos da chegada da idade: cabelo grisalho, recuando enquanto a testa avançava, a perda de alguns passos no campo de handball, dores matinais e – pior do que tudo – em um evento de NA, ver na pista de dança aquelas mulheres jovens olhando através de mim, sem sequer tomar conhecimento.

Comecei a enfrentar alguns problemas médicos. Quando fiz uns oito anos limpo, diagnosticaram-me uma doença do fígado que poderia ser fatal, com o passar do tempo. Na semana em que completei nove anos de recuperação, fui parar no hospital, após dois ataques cardíacos distintos.

Nos dois anos seguintes, dei entrada em hospitais com freqüência, bastante doente do meu problema do fígado. Acabei por receber um transplante de fígado. Houve momentos em que pensei: “Aqui estou, com mais de cinqüenta, todos estes problemas médicos, entrando e saindo de cirurgias – será esta a minha vida?”

Mas meu desespero nunca durou muito. Verdade, minha vida nunca fora melhor. Chegar perto do fim desta viagem, algumas vezes, fez com que eu percebesse o que é mais importante. A vida é muito preciosa, e sou grato a NA por me ensinar a viver.

Normalmente, é fácil trabalhar bem o programa quando tudo está indo bem. Para mim, o mais bonito da recuperação foi ver o programa brilhar na mais profunda escuridão de alguns momentos – fossem eles quais fossem. No tumulto do envelhecimento, recebi uma dádiva que fez com que eu não pudesse desistir. Esta dádiva foi o programa de Narcóticos Anônimos e tudo o que o seu trabalho acarreta: os Doze Passos, um Deus amoroso da minha compreensão, serviço e uma irmandade amorosa (todos vocês). Não teria chegado até aqui sem o amor do meu Poder Superior e sem o amor da irmandade.

Envelhecer? Graças a NA, tenho podido fazê-lo com elegância (e gratidão). Isto, porque, mesmo doente, continuo a ir às reuniões, a ler a literatura de NA, a apadrinhar outros companheiros, a prestar serviço e – talvez mais importante do que tudo – continuo buscando melhorar meu contato consciente com o Deus da minha compreensão.
Quem diria que eu estaria vivo com esta idade, e limpo? Enquanto estiver em recuperação, envelhecer não será tão ruim assim.

Anônimo

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Serviço

Um só mundo

WSB, WSC, WSO, WSCLC, WSCPI, WSCH&I – estas eram apenas algumas das letras do alfabeto de NA. Muitos companheiros jamais compreenderam a diferença entre o Quadro de Custódios dos Serviços Mundiais, o Escritório Mundial de Serviço, a Conferência Mundial de Serviço e os comitês da WSC. Era tudo denominado, simplesmente, de “mundial” – por exemplo, “Vou ligar para o Mundial para saber o que eles dizem a respeito disto”, ou “Talvez alguém do Mundial possa vir ao nosso dia de aprendizado”.

Após a decisão tomada na Conferência Mundial de Serviço de 1998, agora isso passou a ser mais ou menos assim. Antigamente, a WSC elegia um quadro para administrar o WSO. Também havia outro quadro – este, composto de custódios. Este não tinha qualquer responsabilidade em administrar o escritório, mas seus membros administravam determinados funcionários nos projetos e incumbências sob responsabilidade dos custódios – projetos que lhes eram atribuídos pela WSC. A WSC, além de designar tarefas para os comitês dos custódios, também as atribuía aos comitês efetivos da WSC. Muitas vezes, os comitês do WSB e os da WSC tinham dificuldade em compreender quem era responsável por qual decisão e, mais freqüentemente ainda, efetuavam trabalho em duplicidade. Existia uma Corporação da Convenção Mundial, um Comitê de Traduções dos Serviços Mundiais e um Quadro Editorial Consultivo para a The NA Way Magazine. Além disto tudo, havia o Comitê Administrativo da WSC, encarregado de supervisionar tudo, e o Comitê Interino, que deveria tomar as decisões no período entre as reuniões da WSC.

Parece confuso?
As pessoas que precisavam trabalhar naquele sistema pensavam que sim. Então, após anos de preparação e discussão, a conferência decidiu combinar e consolidar todas as diferentes entidades dos serviços mundiais em uma única organização: Narcotics Anonyous World Services, ou NAWS, como já está sendo abreviado (em português, Serviços Mundiais de Narcóticos Anônimos).

Esta consolidação irá nortear o processo de prestação de serviços mundiais aos membros, grupos e comunidades locais de NA. Esperamos que não haja qualquer interrupção na prestação dos serviços de rotina à irmandade.
Se você quiser saber mais sobre o que aconteceu na Conferência Mundial de Serviço, poderá solicitar uma cópia do relatório resumido da conferência.
 

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Procurando uma oportunidade 
para prestar serviço?

Como resultado das mudanças adotadas na Conferência Mundial de Serviço do ano passado, estamos fazendo uma pesquisa mundial, procurando candidatos interessado em prestar serviço. Precisamos de companheiros com cinco anos limpos ou mais, que tenham habilidades e experiência, que possam ser importantes para o desenvolvimento de projetos dos serviços mundiais. Se você fala mais de um idioma, ou se tiver importante experiência profissional ou de NA, gostaríamos de ouvi-lo. Ao mesmo tempo em que são necessárias habilidades específicas, o único requisito absoluto é o tempo limpo.

Para ser considerado, você precisa nos enviar um currículo completo de serviço. Você poderá obter uma cópia do novo formulário para candidatos ao Pool Mundial (além de maiores informações) através do Escritório Mundial de Serviço, ou você poderá fazer seu download junto à nossa página na Internet.

Antes da próxima Conferência Mundial de Serviço, o Painel de Recursos Humanos entrará em contato com os candidatos qualificados, e lhes informará os requisitos específicos para o serviço no Quadro Mundial, seus comitês e para outras funções do serviço, tais como co-facilitador da WSC e o próprio PRH.

Para podermos dar-lhe a atenção adequada antes da WSC 99, precisamos receber sua ficha de inscrição para o Pool Mundial até 1 de janeiro de 1999.

Em serviço,
Painel de Recursos Humanos
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Relacionamento com profissionais

Jeff S, ex-membro
Comitê de IP da WSC
O material a seguir foi preparado pelo agora extinto Comitê de IP da WSC, como recurso para auxiliar os companheiros envolvidos no serviço de IP.

Introdução
Muitas vezes, o desenvolvimento de relações individuais com os profissionais da comunidade terapêutica é negligenciado pelos comitês locais de informação ao público. Muitos adictos chegam através de referências de profissionais da área ou do sistema judicial. Entretanto, para que os profissionais possam fornecer essas referências, precisam conhecer NA e confiar que seus clientes receberão a ajuda de que precisam.

Ambos são ingredientes importantes. Obviamente que ninguém nos indicará se não souber da nossa existência mas, por outro lado, ninguém se referirá a Narcóticos Anônimos se considerar a irmandade apenas como um grupo superficial. O contato pessoal contínuo contribui em grande parte para aumentar as expectativas e o nosso nível de credibilidade junto a esses profissionais.

Quem são os
profissionais?
Com que profissionais deveríamos estar falando? Seu título irá variar de um país para o outro. Essencialmente, são as pessoas em condições de falar com os adictos a drogas que precisam de recuperação. Fazem parte, entre outros:

Assuma um
compromisso
A primeira coisa eficaz a fazer é comprometer-se a dedicar uma pequena parcela de tempo, semanalmente, para conversar com algumas dessas pessoas. Pode ser uma ou duas horas por semana. É o suficiente para estabelecer diversos contatos, fazer uma breve introdução a NA e pedir alguns nomes de profissionais que poderiam utilizar essas informações básicas sobre Narcóticos Anônimos. A quantidade de tempo é menos importante do que o compromisso de fazer os contatos regularmente. Temos um histórico de não cumprir nossos compromissos, em todas as formas de serviço. Isto acarretou para nós, com razão, uma má reputação junto a muitos profissionais; mas, nunca é tarde para fazermos reparações. Um sólido compromisso a ser mantido e um registro consistente já são um bom caminho para se reparar essa reputação.

O que dizer
O objetivo desse contato é proporcionar ao profissional uma breve introdução a NA, oferecer uma lista de reuniões e, talvez, alguns folhetos informativos básicos. Existe uma concepção errônea, entre muitos profissionais da comunidade terapêutica, de que NA seja “igual ao AA, só que para drogas”. Podemos, efetivamente, esclarecer esse equívoco, enfatizando que, em NA, nós nos recuperamos da doença da adicção, e não de uma determinada substância específica. Isto fica bem claro no nosso Primeiro Passo: “Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis”.

Depois disso, deveríamos perguntar se tem interesse em assistir à apresentação de um painel ou se existe mais alguma coisa que possamos fazer, e então ficar ouvindo. Se estiver ao nosso alcance e dentro das tradições ajudar, ótimo. Caso contrário, explique as razões o mais breve e sucintamente possível. A maioria das pessoas está preparada para ouvir um “não” como resposta a uma solicitação e, francamente, elas geralmente preferem ouvir logo do que mais tarde. Mais especificamente, preferem ouvir um “não” a ouvir um “sim” que não seja honrado. O que quer que prometamos, deveremos tentar cumprir – o melhor que pudermos.

Seja organizado
Mantenha uma lista das pessoas contatadas. Registre nomes e informações sobre os contatos. Anote detalhes relevantes da conversa, quaisquer materiais deixados com a pessoa e a data. Estas informações serão muito úteis para ajudá-lo a decidir quando deverá ser realizada uma nova visita. Também ajudará o próximo servidor do comitê de IP, que procurará esses profissionais.

As infomações servirão, ainda, para atualizar e ampliar a sua base de dados sobre profissionais, para projetos futuros de mala direta, transmissão de fax e outros.

Preocupações
Ao contrário dos painéis de IP, que jamais deverão ser realizados por uma pessoa sozinha, os telefonemas e visitas são, muitas vezes, realizados por uma só pessoa. Se este for o seu caso, é importante fazer uma visita curta e objetiva. Se possível, não se deixe levar por longas discussões a respeito de NA. O objetivo é apenas apresentar uma introdução. Convide os profissionais para o próximo painel de IP ou reunião comunitária, onde haverá mais membros de NA para responder as perguntas de diversos profissionais. Lembre ao profissional que NA é uma irmandade muito grande, e que você é apenas um servidor de confiança. É importante que os profissionais compreendam que não existem “chefes” em NA.

Segue um exemplo de formulário que você poderá utilizar para acompanhar os seus contatos com profissionais:

Modelo de Formulário para Contatos de IP

Servidor de confiança: ____________________________________________

Data:__________________________________________________________

Organização: ___________________________________________________

Telefone:_______________________________________________________

Contato:________________________________________________________

Fax:____________________________________________________________

Endereço:_______________________________________________________

E-mail:__________________________________________________________

Motivo do contato:
[_] Apresentação
[_] Follow up
[_] Atualização da lista de reuniões
[_] Outro

Materiais enviados ou deixados:
[_] Pacote de apresentação
[_] Folheto informativo
[_] Lista de reuniões atualizada
[_] Folhetos de eventos

Observações: __________________________________________________

______________________________________________________________
 

A demonstração simulada a seguir ilustra algumas das perguntas que lhe podem ser feitas durante o contato com o profissional, e algumas sugestões de respostas:

Simulação Dramatizada
Telefonema

Profissional: Centro de Tratamento Básico, Conselheiro Joe falando. Boa tarde.

Servidor de Confiança: Olá, Joe, meu nome é _____. Sou um adicto em recuperação da irmandade de Narcóticos Anônimos. Hoje, estou ligando para profissionais da área de dependência química, para falar sobre NA, responder alguma dúvida que você possa ter, e lhe enviar alguma literatura que possa ajudá-lo a oferecer aos seus clientes o suporte de que precisam para se recuperarem da doença da adicção. Será que agora é um momento conveniente, ou seria melhor marcarmos uma hora para outra oportunidade?

P: Bem, eu tenho alguns minutos agora. O que é Narcóticos Anônimos?

SC: Eu lhe darei uma breve descrição. Somos uma irmandade sem fins lucrativos, de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um problema maior. Nós nos reunimos regularmente em grupos informais, para partilharmos nossa recuperação uns com os outros, e como fazemos para ficarmos limpos. Somos um programa de total abstinência de todas as drogas. Qualquer pessoa pode se juntar a nós; o único requisito para ser membro é o desejo de parar de usar.

P: Uau! Eu gostaria, realmente, de conversar com você com mais calma. Podemos marcar para outra hora?

SC: Certamente, normalmente eu faço esse tipo de visita nas quartas-feiras à tarde. Tenho um horário livre às 13:00 h. Estaria bem para você?

P: Está bem assim. Você sabe o endereço do meu consultório?

SC: Tenho o seu endereço. Devo pedir na recepção para ser anunciado, ou posso entrar direto na sua sala?

P: Pode entrar direto – terceiro andar, sala 339.

SC: Ótimo! Está marcado para as 13:00 h, até lá. Tchau.

P: Até mais tarde.

A visita

P: Olá.

SC: Oi, eu sou ____. Falamos ao telefone sobre Narcóticos Anônimos e marcamos uma entrevista para as 13:00h.

P: Sim, ótimo, prazer em conhecê-lo. Como vai?

SC: Ótimo, obrigado, e você?

T: Muito bem, obrigado. Fiquei muito interessado no que você tinha a dizer ao telefone. Obrigado por ter vindo até aqui. Qual é a sua profissão, exatamente? Você é conselheiro?

SC: Não, nós não temos conselheiros. Quase todos os nossos serviços são prestados por voluntários. Dentro da irmandade, somos chamados de “servidores de confiança”. Minha responsabilidade é apresentar Narcóticos Anônimos a profissionais como você, responder a algumas perguntas que você possa ter, e descobrir se NA pode fazer alguma coisa para ajudá-lo.

P: Então, NA é bastante parecido com o AA.

SC: Ainda bem que você fez essa pergunta. O programa que seguimos é parecido com o de AA, uma vez que também seguimos os Doze Passos e as Doze Tradições. Só que, ao invés de focalizarmos a recuperação de uma droga específica, enfocamos a recuperação da doença da adicção. Ela abrange todas as drogas, inclusive o álcool.

P: Compreendo. Quantas reuniões vocês realizam na região?

SC: Temos __ reuniões semanais aqui na cidade, e no estado realizamos mais de ___ reuniões semanais de NA. Trouxe uma lista das reuniões locais, e uma que cobre todo o estado. Nós as atualizamos a cada três meses. Posso lhe enviar uma lista atualizada, todas as vezes que as imprimirmos. Gostaria de recebê-las?

P: Sim, seria bastante útil.

SC: Ótimo, colocarei você na nossa mala direta. Se quiser, poderei também incluir seu fax na lista para divulgação de anúncios de festas e outros eventos que a irmandade promove.

P: É uma ótima idéia! Envie para número 555-5555. Tenho sentido falta de eventos sociais para enviar meus clientes, onde haja uma atmosfera de recuperação.

SC: Também trouxe alguma literatura informativa: o Guia de Introdução a Narcóticos Anônimos e alguns folhetos informativos.

P: Obrigado.

SC: Posso fazer mais alguma coisa por você?

P: Bem, na verdade, eu gostaria de saber se alguém poderia vir fazer uma apresentação aos meus clientes. Seria possível?

SC: Sim, podemos fazer isso. Porque você não assiste ao nosso próximo painel informativo para a comunidade profissional? Está programado para o dia ____ às ____ . Tome um folheto com o anúncio da reunião. Também temos uma fita de vídeo no nosso Escritório Regional de Serviço, chamada “Só por Hoje”. Você também pode encomendar outras literaturas do nosso escritório. Aqui está um formulário de pedido de material, com o endereço e telefone do escritório. Se quiser solicitar um painel de membros de NA para falarem aos seus clientes, preciso conversar com o meu comitê para programá-lo. Nós nos reuniremos em duas semanas. Na semana seguinte, eu lhe telefonarei informando algumas datas e horários possíveis.

P: Muito obrigado.

SC: Foi um prazer conhecê-lo. Você acha que deveríamos contatar algum colega seu em particular?

P: Pensando bem, acho que você deveria falar com o meu chefe. Ele precisa saber um pouco mais sobre os recursos existentes na nossa comunidade.

SC: Obrigado, eu vou fazer contato com ele. Um dos folhetos que eu lhe trouxe chama-se “NA: Um Recurso na sua Comunidade”. Você se importaria de passar o folheto para ele e avisar que estarei ligando para conversarmos?

P: Claro.

SC: Ótimo! Mais uma vez, foi um prazer. Meu comitê e eu fazemos votos de podermos trabalhar com você por muito tempo.

P: O sentimento é recíproco. Tenha uma boa tarde.

SC: Você também.


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Libertada

Sou uma adicta e meu nome é Pam. No final da minha adicção, internei-me voluntariamente em um hospital psiquiátrico. O meu medo insuperável de viver havia me paralisado. Minha vida foi salva por um Poder Superior amoroso, um painel de H&I e um Texto Básico. Como resultado, estou limpa há três anos e meio, e apaixonadamente comprometida com o trabalho de H&I.

Envolvi-me com H&I desde que tinha trinta dias limpa. Não consigo encontrar palavras para descrever a sensação de fazer trabalho de H&I. A humildade e gratidão que eu sinto transcendem o que as palavras conseguem expressar. Tenho um apetite insaciável para o serviço e a recuperação. Se não fosse por H&I, não sei onde eu estaria hoje: na cadeia, em alguma instituição, ou morta. Sou verdadeiramente grata.

Aprendi que é muito bom levar um Texto Básico comigo, quando participo de painéis de H&I. A mensagem que levamos vem do nosso Texto Básico e não muda. Como nunca sabemos o resultado do trabalho do Décimo-Segundo Passo, jamais estaremos errados, quando falarmos do Texto Básico. Quando participo de um compromisso de H&I e ninguém no painel consegue se identificar com a experiência de um determinado adicto, tudo o que precisamos fazer é uma referência ao Texto Básico. Ajuda a fazer qualquer adicto se sentir “parte”, e evita que focalizem apenas as diferenças que existem entre nós.

Cheguei ao programa sendo agnóstica. Com trinta dias limpa, tive a bênção de ver o meu PS em uma convenção em Baltimore, Maryland (EUA). Durante o concerto realizado no anfiteatro ao ar livre, o meu PS se revelou e falou comigo. Ela me perguntou se eu estava pronta a me render. Minha resposta foi “Sim”. Então ela continuou repetindo para mim: “Você está livre. Você se rendeu. Você não tem nada a temer.” (Eu já estava completamente desintoxicada quando aquilo ocorreu.)

Não só fui libertada da obsessão de usar e da prisão construída pela minha própria mente; sou livre da degradação e desesperança de onde eu vim. Conseqüentemente, minha fé continua a crescer.


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H&I SlimH&I Slim

Os leitores do H&I News conhecem o H&I Slim. Para aqueles de vocês que ainda não tiveram o prazer, H&I Slim é o tipo do cara incrível. Está nos hospitais e cadeias do mundo todo. Pode-se dizer que está em todos os lugares, e sempre de partida. Perguntas sobre H&I? Precisa de ajuda? Escreva para H&I Slim, aos cuidados do WSO.

Prezado H&I Slim,
A minha região promove regularmente oficinas de H&I – às vezes até duas por mês. Utilizamos o Manual de H&I e, de vez em quando, trazemos funcionários do Departamento Penal do Estado para responder sobre suas instituições. Minha pergunta para você: Uma vez que realizamos tantas oficinas, que outros recursos poderíamos utilizar para tornar nossas oficinas mais informativas e interessantes para os participantes?

Buscando maiores informações
Prezado buscando,
Em primeiro lugar, permita-me parabenizar o seu comitê e a sua região pelo trabalho de levar a nossa mensagem através do serviço de H&I. Vocês estão certos – o Manual de H&I é nossa melhor fonte de informação, mas existem algumas outras. A fita de áudio que acompanha o Manual é excelente. Pode ser ouvida nas oficinas, e também pelos membros do painel, a caminho de uma instituição. Também existem diversos boletins relativos a H&I, sendo os dois mais recentes “Homens com homens, mulheres com mulheres” e “Reuniões de H&I em clínicas de metadona”.

Além disso, o WSO possui material extraído de textos elaborados pelos membros do Comitê de H&I da WSC. Este material poderá ser obtido mediante solicitação ao escritório.

H&I Slim
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Guarde bem

O grupo “Viva e Deixar Viver”, em Baltimore, Maryland/EUA, foi fundado em 1984, e vem se reunindo nesta sala desde então. Existem cerca de vinte membros ativos no grupo de escolha, e as reuniões geralmente ocorrem com mais de 100 presenças.

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Cessão de direitos autorais

Todos os artigos submetidos deverão ser acompanhados deste documento de cessão de direitos autorais, assinado:

Eu, abaixo assinado, concedo a World Service Office, The NA Way Magazine, seus sucessores, prepostos, e todos aqueles que agirem em seu nome, autorização para publicar o material original em anexo.

Compreendo que esse material será editado e, ainda, que poderá vir a ser reproduzido em outras publicações da irmandade de NA. Tenho total capacidade legal para conceder esta autorização e eximo World Service Office e a The NA Way Magazine de qualquer queixa apresentada por mim, meus sucessores e/ou prepostos.

Assinatura: _________________________________

Data: ______________________________________


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PRODUTOS DO WSO


Miracles Happen:
The Birth of Narcotics Anonymous in Words and Pictures
Milagres Acontecem
O Nascimento de NA em
Textos e Fotografias
[publicado em inglês]
Este livro em tamanho grande, contendo 112 páginas em quatro cores, retrata o nascimento de Narcóticos Anônimos em textos e fotografias.

Os textos: Os arquivos do WSO e as palavras de Jimmy K nos relatam a história de luta dos nossos fundadores, para iniciarem uma irmandade de adictos.

As fotografias: As fotos dos documentos históricos ilustram a história. Da lista de presenças da nossa primeira reunião aos nossos primeiros textos de literatura – estas reproduções de alta qualidade permitem-nos vislumbrar nossas raízes.
Item n.º 1120 Preço: US$ 24.95


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